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quinta-feira, 2 de julho de 2009

NÓS, E A VIDA ALHEIA...


A vida é para nós o que concebemos dela.
Para o rústico cujo campo lhe é tudo, esse campo é um império. Para o César cujo império lhe ainda é pouco, esse império é um campo.
O pobre possui um império; o grande possui um campo.
Na verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações; nelas, pois, que não no que elas vêem, temos que fundamentar a realidade da nossa vida.
Fernando Pessoa
Temos a incrível mania, ou a maravilhosa defesa (escolham vocês) de prestar mais atenção a vida dos outros, seus problemas, fracassos e sucessos, do que a nossa própria vida.
Com certeza existem pessoas que fazem isso mais que as outras, mas em qualquer grau temos um monte de teorias sobre o que seria melhor para a vida de fulano de tal, como um parente deveria educar seus filhos, como nossa amiga querida atura aquele marido chato, ou o pobrezinho do outro amigo que é casado com a mulher-mala, sentimos que nossos queridos mais próximos estão sendo injustiçados por outras pessoas, seus patrões por exemplo, e por ai vai.
Nosso foco é o outro, e sua incompetência para resolver a própria vida!
Julgamos com nossos próprios valores o que seria melhor para ele, mas isso é só o inicio, pois logo depois vem uma serie de considerações sobre o que o outro deveria fazer, o jeito como deveria falar com alguém, a forma certa de se comportar, as decisões que deveria tomar e o ritmo em que deveria viver sua vida.
Por fim, como a conclusão de nossa enorme "capacidade" para gerenciar a vida alheia dizemos: AH SE FOSSE COMIGO...ai o bicho pega mesmo, rsrsrs, porque no fechamento desses momentos loucos, sempre temos um discurso final, onde declaramos em alto e bom som ( até porque, nessas horas geralmente temos um cúmplice) como faríamos se a coisa toda fosse com a gente!!!
Meus queridos podem esquecer esse papo furado, pois é tudo mentira!
Se estivessemos vivendo aqueles problemas ou dificuldades, estaríamos tão encrencados como o outro deve estar, ou até mais, quem sabe?!
A vida do outro é sempre vista por nós como um seriado de TV, algo que nos foge ao controle, e quase como co-autores dos dramas alheios, vamos expressando nossos valores, desejos , expectativas, e ansiedades, sem nos dar conta que os verdadeiros dramas estão dentro de nós e das nossas vidas.
Cada um tem seu jeito de resolver as coisas, seus próprios valores e decisões baseados em necessidades intimas, que nos escapam inteiramente muitas vezes. Cada pessoa tem principalmente seu tempo e ritmo, tal qual o universo.
Como disse muito bem Fernando Pessoa, para o rústico, cujo campo é tudo, o campo é o império, e talvez o outro já saiba disso.
Se estamos olhando demais para a vida dos outros, que tal perguntar como anda nosso coração, nossos sentimentos e sonhos?
Talvez ao olhar para o campo do outro, nos perca de vista nosso próprio espaço e dimensão interior, nossas carências e limitações para lidar com as dificuldades internas.
Afinal, se não possuimos mais do que as próprias sensações... Basta apenas ter a coragem para tirar a máscara e enfrenta-las...e veremos que dos grandes problemas que vemos nos outros, a maioria nos pertence, no mínimo, é sempre nosso o imenso EGO que insiste em criar regras e julgar a vida e o propósito alheio.
Beijos em todos...

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