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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Saudade, palavra imprecisa para o que vai dentro do coração…

As águas do rio correm velozes, e vão marcando e transformando a paisagem ao seu redor. Sem pretensões e sem saber disso, vão marcando as margens , alargando espaços e deixam sua assinatura: “Passei por aqui!” Pela constância abrem fendas na terra, mudam as paisagens ao redor, consomem as pedras mais duras , deixando-as lisas e polidas. As águas passam, se vão, mas deixam suas marcas, assim como as pessoas que passam em nossa vida, especialmente aquelas que amamos.

Perguntamos, para onde vão? Que momento bom passamos juntos, quando podíamos sentar na beira de um riacho e jogar pedrinhas nas águas e acompanhar com os olhos as folhas que caiam nas águas do rio…mas as águas correm velozes e não conseguimos acompanhar seu curso. Evaporam? Viram nuvens? Caem como chuva? Engrossam os Oceanos? Voltam a correr nos mesmos rios?…pensei nas pessoas queridas da minha vida que se foram há muito tempo, mas hoje essa saudade cai como uma chuva fina e intensa…

É “saudade” o nome disso que sinto…saudade.

Esse sentimento estava aqui há dias disfarçado, sinalizando algo que parecia mais um pacote embrulhado sem laços de fitas dentro de mim. Mas as vezes é tão difícil decifrar o que vai no pacote, e colocamos ele numa prateleira alta, mas magicamente ele cai e se instala no meio do peito e começa seu tic-tac, como uma bomba relógio!

Sabe, dificilmente falamos de saudade, é um sentimento tão precioso, tão pessoal, e infelizmente tão pouco respeitado quando queremos dividir com alguém. Talvez pelo incômodo que causa ou pelas lembranças que trará no sentimento alheio, ele não é para ser mencionado. Quando falamos sobre essa dor, é com breves palavras e olhe lá!

Sequer o luto recente é bem aceito, ou mesmo a dor emocional profunda motivada por qualquer razão. O ser humano tem defesas que beiram a insensibilidade e empurram a “aceitação” para dentro do outro como uma rolha, um tampão, porque no fundo não suportam ser espectadores de uma dor que bem poderia ser a sua própria dor. Tristemente constato que ainda vivemos num mundo que ensina as pessoas a “engolirem o choro”.

Tudo tem um tempo na vida, até a mais profunda dor vai mudando sua fisionomia e se tornando mais viável, mas continua existindo, como uma falta de tudo o que não foi vivido, tudo que se deixou para trás, ela vive como saudade, e como saudade reafirma o amor que foi trocado e vivido, como tudo que foi compartilhado e aprendido, como tudo que foi doado sem intenções de retorno…palavras, sorrisos, abraços, sonhos, carinho, gestos bobos, olhares de cumplicidade!

Quem tem saudade tem algo de bom para viver, saudade é o registro delicado e terno do amor que foi vivido, dos momentos que foram partilhados, da alma amiga que passou pela nossa vida…passou deixando saudades porque foi generosa, cumplice, suporte, caminho, vida.

Esse sentimento que vive na esfera nebulosa dos nossos esconderijos é ponte para futuros reencontros, é amor sublimado de luz irradiante que ilumina nossos queridos, e sabe que quem partiu não morreu, apenas cumpriu a sua parte se foi antes de nós porque o momento havia chegado, partiu no tempo certo e as encontraremos sempre no nosso amor e estaremos face a face no momento em fizermos nossa partida!

Saudade, amor, e gratidão… “em vez de um ponto, uma virgula…”, um até breve, até já! Obrigada, recebi o seu abraço apertado!