Páginas

domingo, 3 de maio de 2009

PERDIDOS E ACHADOS...



Vida - Departamento de Perdidos e Achados...
Cheguei até lá e perguntei pelas três pessoas que perdi nesses últimos dias e me disseram que fiz a pergunta errada!
Me disseram que eu deveria perguntar pelos meus sentimentos, pelas lembranças que temia perder, pela esperança que se abala com a dor das perdas, pelos meus sonhos de ter uma vida inabalavelmente feliz, pelo recomeço difícil depois das despedidas, pelo medo secreto que fica no coração depois que temos que dar mais um adeus...
Foi isso que escutei no fundo do meu coração, e tive que me calar e procurar em mim essas respostas, pois por mais que nos digam algo acolhedor, somente o tempo fecha as feridas das perdas.
No departamento de Perdidos e Achados, a parte mais difícil talvez seja a reformulação da vida sem aquilo ou aqueles que nos são caros.
Aprendi a não subestimar sentimentos e dores alheias, porque nossos vínculos são além das aparências, e mesmo quando perdemos algo, um objeto,e sofremos por isso, o que pode parecer um gesto superficial e tolo, significa que colocamos naquilo, valores e sonhos que nem sempre acreditamos que nosso Eu poderá ter um dia.
Não havia ninguém no balcão de informações do Departamento de perdas da vida...e nunca há, e mesmo que houvesse alguém, não ficaríamos felizes com as respostas, porque em nossa fragilidade esperamos sempre que o mundo não gire, que tudo permaneça para sempre como precisamos e que mesmo sabendo que as mudanças são necessárias, sabemos também o quanto dói ter que arregaçar as mangas e trabalhar por elas.
Esses dias foram cheios de surpresas e reflexões sobre a vida. Me senti vulnerável e cheia de amor. São os bonus das perdas: ver a beleza da vida e de tudo que ela representa em nossa evolução, sentir a dor de perder e o Dom de amar, pois são partes da mesma unidade-vida.
Algumas coisas nos igualam na experiência da vida, as dores e as alegrias. Claro que temos um jeito especial de sentir, mas os fatos marcantes, são mais ou menos iguais para todos nós...
Saí do balcão de informações meio desolada, sentindo aquela solidão típica desses momentos, com meu protocolo de atendimento amassado e sem respostas claras. Mas fui caminhar na floresta da Tijuca e combinei com meu marido que nos iríamos caminhar até " Ao lugar nenhum" e quando a gente sentisse cansaço, voltaríamos. Foi ótimo! Não cheguei a lugar nenhum e me vinguei do Departamento de informações. Deixei parte da minha dor no chão abençoado da floresta e sai de lá com meu coração mais leve.
Algumas respostas o tempo vai dar, outras eu já sabia, mas fiz questão de não ouvi-las, outras, a fé que eu tenho na vida vai tratar de cura-las, e algumas jamais serão respondidas para que a vida jamais perca seu encantamento.
Para minha felicidade a floresta fica logo ali, e quando chego lá e vejo sua soberana força natural, entendo os ciclos da vida, o nascimento, o florescer e morte de tudo que vive, sem alardes, sem noticiários, num completo movimento de equilíbrio e harmonia, é a vida...



Um comentário:

  1. Entrei em comentário apenas para escrever "sem comentário" (rss)

    ResponderExcluir