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domingo, 12 de abril de 2009

Eu sou ...deixa pensar...UM DIAMANTE ?




Eu…
de Florbela Espanca

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,
e desta sorte
Sou a crucificada… a dolorida…
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo,
triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!…
Sou aquela que passa e ninguém vê…
Sou a que chamam triste sem o ser…
Sou a que chora sem saber porquê…
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
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Quem sou eu, quem é você?
Essas são as perguntas inquietantes e constantemente pesquisadas, mesmo que não ousemos falar para os outros as descobertas desta intrigante pesquisa.
Quem sou eu, é uma pergunta que acomete mais a uns do que a outros. Há gente que se acha sabedor de si, e se conhece muito bem, embora quem olhe de fora só veja incoerências e arrogância.
Outros fingem saber-se mais que qualquer coisa e tecem teorias sobre si mesmos, de tal forma que sempre há justificativas para todos os seus atos.
Conheço pessoas que tem medo de olhar para si e encontrar aquilo que mais temiam, suas maldades, seus temores e suas glórias. Preferem ficar anestesiadas, pois julgam que o seu interior é feito de coisas que jamais poderiam ser aceitas pelos outros.
Talvez o que para muitos traz dor e inquietação, para mim traz conforto e alegria. Não somos uma coisa só, e jamais seremos o que gostariam que fossemos.
Exatamente como um diamante bruto, precisamos trabalhar na descoberta de novas facetas, e ir trabalhando infinitas vezes nela, para que se torne bela para os nossos olhos. Então passamos para uma outra face, e outra.
Quem olha um diamante incrustado numa jóia, lhe vê o todo. O brilho, o formato e gosta dele ou não. Nem os diamantes agradam a todos!
Assim somos nós, nos olham o todo, talvez não nos encontrem de fato. Mas nos revelamos a quem tem sensibilidade para ver as nuances e detalhes mais preciosos.
Não há um diamante igual ao outro, nem uma pessoa igual a outra. Nem sequer teorias filosóficas e psicológicas que definam alguém. Nos dão pistas, e a delícia consiste em pesquisar para concluir que nada é de fato tão preciso sobre uma pessoa.
Por isso gosto de poesias...os poetas são livres e não tem medo de dizer as tais palavras: não sei quem sou, nesse mundo ando perdida...
Por isso gosto do meu trabalho...pois dando as mãos uns aos outros, é mais fácil achar o caminho para dentro de mim...
para dentro do outro.
O que encontro em mim, o que encontro no outro? Pedras brutas, diamantes em estado bruto...Nada daquilo que imaginação nenhuma poderia definir em suas literaturas sábias, nada tão pronto assim, que não possa ser lapidado ainda mais, e, pelas mãos do próprio dono...
Nada daquilo que eu gostaria que fosse em mim, e que provavelmente você não gostaria que fosse em você, simplesmente um trabalho comum e dedicado, para ser feito com muita disposição e pouco glamour.
Pedras, diamantes de quilates diferentes, gente boa que cruza nossas vidas, pessoas raras que compõem nossa história de vida, experiências que lapidam o espírito,poesia e ternura, tudo isso e muito mais, se revelam na jóia que cada um é, talvez nos falte apenas ter olhos para "ver"!

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