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domingo, 15 de fevereiro de 2009

CTRL+ALT+DEL...DELETAR OU...


Tempos atrás, não tanto tempo assim, começou uma cultura de descartáveis, algo que foi criado para ser de utilidade prática porem parece que criou vida própria e passou a ser aplicado em todos ou quase todos os setores da vida, passando pela politica, filosofia, arte relacionamentos e famílias.
Se a coisa não tivesse uma aplicabilidade ou não fosse realmente funcional logo deixaria o seu lugar e o caminho certo era o lixo.
Com isso a relação entre pessoa e objeto por sua vez foi mudando junto e o sentido de afetividade e apreço, sabe aquele carinho que temos por algumas coisas , porque nos foi tão difícil de adquirir ou porque nos remete a um momento importante da vida ou a uma relação que foi especial , parece que foi aos poucos se perdendo também.
Muitas vezes observei esse conceito aplicado a teorias que não rendem tanto dinheiro assim, ou a tratamentos que exigem tanto tempo assim ou a pessoas que não são tão mais úteis assim...parece cruel, mas vi isso refletido em muitos relacionamentos onde é mil vezes mais fácil trocar por outro e descartar o antigo, do que investir em um processo de apropriação da relação e avaliar em conjunto que pontos precisam ser "descartados" e quais precisam ser construídos...
Parece que o envolvimento e a entrega ficaram abalados pois de certa forma há um indicio mais ou menos claro que nos avaliava pela capacidade de bom uso e aproveitamento...nos retirando a condição de humanos e nos transformando em coisas.
Muitas vezes, e não foram poucas precisei informar em meu trabalho terapêutico, que a Psicoterapia é um processo onde a pessoa envolvida precisa se descobrir e tomar seus próprios rumos, e ao contrario do que muitos pensavam, não era uma oficina mecânica pra "consertar gente que não dá certo na vida" ou que "não funciona como era o esperado"...
Não é sem motivo que hoje temos problemas com lixo, é lixo que não acaba mais, pilhas de lixo constituídos por coisas, objetos e gente (Basta dar uma passeada pelas ruas do Rj...)
Sabemos que tudo caminha e progride, mas nem sempre é clara a direção em que o progresso vai nos levar, e precisamos saber que progresso é esse que acontece e se temos de engolir tudo que nos chega como meros espectadores ou se podemos assumir o comando de nossos destinos e criar um mundo mais humano e gentil para coisas e pessoas e natureza.
Essa cultura de jogar fora, tão prática e interessante, que agora caminha para sua evolução mais "limpa" faz o indesejado desaparecer aos nossos olhos.
Como num passe de magica podemos nos livrar de erros, de nomes de pessoas no celular, de arquivos e fotos de amigos que saem da nossa lista, de lembranças e memórias que se tornam vulgares e virtualmente vividas, pois é , essa cultura não vem com a bula e as contra-indicações...portanto não sabemos no que nos transformaremos daqui a algum tempo se nos coisificarmos e nos transformarmos numa peça deste novo arranjo de novidades...
Nada tenho contra as praticidades da vida atual, pelo contrario, muito menos contra o botãozinho magico "del"mas...
Felizmente ainda temos alma, mas não é o suficiente, precisamos mesmo é trabalhar não apenas o intelecto, mas também a consciência para que a tão sonhada evolução se dê em patamares mais elevados.
De que nos adiantará tanto saber, ter, poder e estarmos perdidos de nós mesmos e do nosso próximo?
Como sou uma sonhadora, uma sagitariana mega otimista, prefiro apostar num mundo melhor onde aos poucos a gente possa aproveitar o que de fato é bom para todos, sem confundir pessoas com coisas, amizades com oportunidades convenientes, e encontrar novos significados para o descartar e deletar...tranformando esse mundinho em que estamos situados hoje num lugar melhor para viver e amar!


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